“Seu” Moreira era um senhor de 50 anos, representante de laboratório farmacêutico, o cliente mais antigo da sapataria do bairro onde morava, no subúrbio do Rio de Janeiro. Devido muito mais à barriga que à própria idade, tinha certa dificuldade para experimentar os sapatos e, por isso, não dispensava a ajuda do vendedor, que, com a humildade de sempre, agachava-se e, com uma calçadeira, empurrava aquele pé gordo para dentro do sapato escolhido. Puxava o cadarço e dava o nó, enquanto “seu” Moreira fazia cara de dor, como se chupasse limão azedo.
Curioso, porém, era que o homem nunca reclamava; pelo contrário, fazia questão de levar sapatos de um número menor que o seu. O vendedor, ainda que muito intrigado, não se julgava no direito de questionar a decisão do cliente, mas sempre lhe vinha à mente a mesma pergunta: “Por que ‘seu’ Moreira compra sempre sapatos menores?”
Num belo sábado à tarde, “seu” Moreira apareceu muito bem disposto à sapataria. Nem parecia que tinha perdido a esposa há pouco tempo. De fato, estava alegre e de bem com a vida. Escolheu um novo modelo de sapato, mais bonito e mais caro que o usual. Quando o vendedor lhe trouxe o número de sempre, sorriu e disse: “Não, meu bom amigo. Não uso mais esse número. Traga um maior, por favor.”
O sapato agora lhe coube como uma luva. Em vez de andar como se estivesse pisando em vidros, “seu” Moreira dava passos felizes e sorria quando andava. “Amigo, tenho certeza que muitas vezes o intriguei quando comprava um sapato de número menor que o meu e me obrigava a andar com aquelas dores nos pés. É que sendo muito malcasado, tinha uma esposa que me infernizava a vida, falando e reclamando durante todo o tempo que estava em casa. Quando no trabalho, eu me lembrava que, ao anoitecer, teria de voltar e suportá-la, consolava-me com o fato de que pelo menos em casa eu poderia tirar os sapatos que tanto me atormentavam e, por isso, sinto-me tão feliz! Fiquei viúvo e, portanto não preciso de sapatos pequenos.”
Quão maravilhosa é a esposa discreta, cujas palavras são sábias, mas quão terrível é aquela que “fala pelos cotovelos”, intrometendo-se em todos os assuntos, dando palpites, fazendo intrigas e transformando a vida do marido num verdadeiro infortúnio.
Na Bíblia há um versículo que serve de reflexão e alerta: “Melhor é morar no canto do eirado do que junto com a mulher rixosa na mesma casa.” (Provérbios 21:9 e 25:24)
Extraído da: Folha Universal, domingo 11 de setembro de 2011, pág 3i